Todos os dias passava ali com a mãe e, invariavelmente, desde que o tempo quente chegara, vestia a mesma camiseta de manga curta, às riscas azuis escuras e cinzentas.
Quase sempre, por volta das 11horas, Marta, a cara sorridente que recebia quem entrasse na agência de viagens, já se habituara a vê-lo de testa colada à montra com um ar sonhador e, uns minutos mais tarde, já sabia que ele entrava e pedia-lhe um catálogo:
- Pode dar-me um catálogo das ilhas gregas?
- Gostaria de saber quanto custa uma viagem para o Egipto?
- A Amazónia fica no Brasil, não fica? Aqui neste livro tem a Amazónia?
Nunca se esquecia de agradecer com um simples “obrigado” e um sorriso tímido de contentamento pela descoberta que levava na mão.
Todos os dias, quando a mãe ia ao café, ele parava a olhar para a montra da agência de viagens, entrava quase sempre, excepto quando a mãe lhe pedia para o ajudar com os sacos de compras, aí não, tinha medo de se esquecer deles na loja, caso entrasse. Mas era-lhe difícil resistir à tentação de passar aquela porta e entrar num mundo mágico, que lhe chegava através das imagens coloridas daqueles livros, que eram tantos e com tantos sítios que o faziam sonhar...aquela praia de areia branca e ondas brincalhonas...o barco colorido que o levaria a desvendar os segredos dos oceanos....as ruínas Maias onde atrás de cada pedra podia haver a porta escondida para um tesouro...
Normalmente, Marta, sim ele já lhe conhecia o nome, sorria para ele e por uma vez tinha-o chamado para lhe dar um catálogo novo sobre Africa, até parecia que ela já sabia que os animais o fascinavam.
Todos os dias por volta das 11 horas, naquela movimentada rua, costumava estar um menino cinquentão, de ar tímido e sonhador, que encostava a testa à montra da agência de viagens. Quem reparava nele, não conseguia deixar de abanar a cabeça e pensar um rápido e logo esquecido “coitado”. Para mim, que tantas vezes o via, já lhe lia nos olhos o desejo de crescer e ir, de ser como todos os meninos da sua idade.
9 Comments:
At agosto 21, 2006 4:54 da tarde, Sister San said…
porquê?
At agosto 22, 2006 2:16 da tarde, Sister Nemm said…
Meninas perdi-me na densidão dos vossos comentérios...
beijos para todas
At agosto 22, 2006 3:23 da tarde, Sister San said…
que sr.ª?
At agosto 22, 2006 6:03 da tarde, Anónimo said…
todos os dias são momentos unicos e com alguma atenção todos nós teremos alguns contos urbanos para relatar...
At agosto 23, 2006 12:01 da tarde, Anónimo said…
sem grande jeito para a escrita limito-me a solicitar-lhe encarecidamente que escreva mais espisodios, na vã tentativa de me inspirar e quem conseguir um dia escrever qualquer coisa
At agosto 23, 2006 12:03 da tarde, Anónimo said…
dear Sister San, existem alguns pontos que me são familiares, porque será?
gostei muito da ideia dos contos urbanos, agora continua...
At agosto 23, 2006 12:51 da tarde, Anónimo said…
escreves bem pá. granda pinta.
(rafaleão)
At agosto 24, 2006 8:30 da tarde, Luis said…
"Todo dia ela faz tudo sempre igual
Me sacode às seis horas da manhã
Me sorri um sorriso pontual
E me beija com a boca de hortelã
Todo dia ela diz que é pra eu me
cuidar
E essas coisas que diz toda mulher
Diz que está me esperando pro
jantar
E me beija com a boca de café
Todo dia eu só penso em poder parar
Meio-dia eu só penso em dizer não
Depois penso na vida pra levar
E me calo com a boca de feijão
Seis da tarde como era de se esperar
Ela pega e me espera no portão
Diz que está muito louca pra beijar
E me beija com a boca de paixão
Toda noite ela diz pra eu não me afastar
Meia-noite ela jura eterno amor
E me aperta pra eu quase sufocar
E me morde com a boca de pavor
Todo dia ela faz tudo sempre igual
Me sacode às seis horas da manhã
Me sorri um sorriso pontual
E me beija com a boca de hortelã"
Quotidiano (Chico Buarque)
At setembro 08, 2006 3:03 da tarde, Sister Meg said…
Gostei muito. Mesmo muito, deste Conto Urbano. Especialmente a última frase. Bem bonita a frase e bonito o conto.
Como se diz por estas bandas "estás no bom caminho"
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