a irmandade da cueca

Porquê que se diz um par de cuecas se ela é só uma? Não sei, talvez porque é sempre bom partilhar as coisas, mesmo as mais intímas... Mas como não há longe sem distância, e esta última existe, criamos aqui uma tertúlia virtual, em que os km não têm lugar e que por meias, completas ou ausentes palavras contamos o que nos vai na alma ou que simplesmente vai.

segunda-feira, agosto 21, 2006

Contos Urbanos I

Todos os dias passava ali com a mãe e, invariavelmente, desde que o tempo quente chegara, vestia a mesma camiseta de manga curta, às riscas azuis escuras e cinzentas.
Quase sempre, por volta das 11horas, Marta, a cara sorridente que recebia quem entrasse na agência de viagens, já se habituara a vê-lo de testa colada à montra com um ar sonhador e, uns minutos mais tarde, já sabia que ele entrava e pedia-lhe um catálogo:
- Pode dar-me um catálogo das ilhas gregas?
- Gostaria de saber quanto custa uma viagem para o Egipto?
- A Amazónia fica no Brasil, não fica? Aqui neste livro tem a Amazónia?
Nunca se esquecia de agradecer com um simples “obrigado” e um sorriso tímido de contentamento pela descoberta que levava na mão.

Todos os dias, quando a mãe ia ao café, ele parava a olhar para a montra da agência de viagens, entrava quase sempre, excepto quando a mãe lhe pedia para o ajudar com os sacos de compras, aí não, tinha medo de se esquecer deles na loja, caso entrasse. Mas era-lhe difícil resistir à tentação de passar aquela porta e entrar num mundo mágico, que lhe chegava através das imagens coloridas daqueles livros, que eram tantos e com tantos sítios que o faziam sonhar...aquela praia de areia branca e ondas brincalhonas...o barco colorido que o levaria a desvendar os segredos dos oceanos....as ruínas Maias onde atrás de cada pedra podia haver a porta escondida para um tesouro...
Normalmente, Marta, sim ele já lhe conhecia o nome, sorria para ele e por uma vez tinha-o chamado para lhe dar um catálogo novo sobre Africa, até parecia que ela já sabia que os animais o fascinavam.

Todos os dias por volta das 11 horas, naquela movimentada rua, costumava estar um menino cinquentão, de ar tímido e sonhador, que encostava a testa à montra da agência de viagens. Quem reparava nele, não conseguia deixar de abanar a cabeça e pensar um rápido e logo esquecido “coitado”. Para mim, que tantas vezes o via, já lhe lia nos olhos o desejo de crescer e ir, de ser como todos os meninos da sua idade.

9 Comments:

  • At agosto 21, 2006 4:54 da tarde, Blogger Sister San said…

    porquê?

     
  • At agosto 22, 2006 2:16 da tarde, Blogger Sister Nemm said…

    Meninas perdi-me na densidão dos vossos comentérios...
    beijos para todas

     
  • At agosto 22, 2006 3:23 da tarde, Blogger Sister San said…

    que sr.ª?

     
  • At agosto 22, 2006 6:03 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    todos os dias são momentos unicos e com alguma atenção todos nós teremos alguns contos urbanos para relatar...

     
  • At agosto 23, 2006 12:01 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    sem grande jeito para a escrita limito-me a solicitar-lhe encarecidamente que escreva mais espisodios, na vã tentativa de me inspirar e quem conseguir um dia escrever qualquer coisa

     
  • At agosto 23, 2006 12:03 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    dear Sister San, existem alguns pontos que me são familiares, porque será?
    gostei muito da ideia dos contos urbanos, agora continua...

     
  • At agosto 23, 2006 12:51 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    escreves bem pá. granda pinta.

    (rafaleão)

     
  • At agosto 24, 2006 8:30 da tarde, Blogger Luis said…

    "Todo dia ela faz tudo sempre igual
    Me sacode às seis horas da manhã
    Me sorri um sorriso pontual
    E me beija com a boca de hortelã

    Todo dia ela diz que é pra eu me
    cuidar
    E essas coisas que diz toda mulher
    Diz que está me esperando pro
    jantar
    E me beija com a boca de café

    Todo dia eu só penso em poder parar
    Meio-dia eu só penso em dizer não
    Depois penso na vida pra levar
    E me calo com a boca de feijão

    Seis da tarde como era de se esperar
    Ela pega e me espera no portão
    Diz que está muito louca pra beijar
    E me beija com a boca de paixão

    Toda noite ela diz pra eu não me afastar
    Meia-noite ela jura eterno amor
    E me aperta pra eu quase sufocar
    E me morde com a boca de pavor

    Todo dia ela faz tudo sempre igual
    Me sacode às seis horas da manhã
    Me sorri um sorriso pontual
    E me beija com a boca de hortelã"

    Quotidiano (Chico Buarque)

     
  • At setembro 08, 2006 3:03 da tarde, Blogger Sister Meg said…

    Gostei muito. Mesmo muito, deste Conto Urbano. Especialmente a última frase. Bem bonita a frase e bonito o conto.
    Como se diz por estas bandas "estás no bom caminho"

     

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